terça-feira, 1 de novembro de 2011

Carta I – O Mago (Parte 2)

Na visão metafísica, o Mago da primeira carta está associado à letra “Aleph” da cabala judaica. “Aleph”, que é a primeira letra do alfabeto hebraico, apresenta uma alusão à trindade, pois é escrita na forma de duas partes, ligadas por uma terceira, como abaixo.
א א
Isso nos indica que a natureza é composta de binários, o conjunto de duas polaridades opostas, como nos casos:

Marido e mulher
Alta e baixa
Luz e sombra
Calor e frio

O terceiro elemento de Aleph, a barra transversal, nos indica a necessidade de buscar o terceiro elemento capaz de neutralizar estes binários e transformá-los em uma unidade, que é o número da primeira carta do Tarô. No caso de luz e sombra se coloca a penumbra, obtendo assim graus de iluminação. Entre calor e frio existem as temperaturas intermediárias. Para alta e baixa temos a média. Entre marido e mulher, onde existe um antagonismo sexual, a neutralização é dada pelo filho e os três elementos se fundem num só, a família.

O termo médio possui assim uma construção dual, uma característica aos dois termos extremos. Porém nem todos os binários podem ser facilmente neutralizados. Podemos neutralizar, por exemplo, o binário essência-substância pelo termo natureza. Mas não é fácil neutralizar os binários:

Espírito e matéria
Vida e morte
Bem e mal
Consciência e poder de realização

O poder de neutralizar esses binários é feito através da chamada Iniciação. Por analogia com os binários neutralizados podemos chegar à solução dos demais, através do que podemos chamar de Poder de Realização do Símbolo no mundo metafísico-lógico.

Para neutralizarmos o binário espírito / matéria devemos nos lembrar que o homem espiritualmente vive no plano das idéias e se expressa no plano físico ou material. Assim, no nosso esforço de iniciação devemos ver como se passa do plano das idéias para o plano dos objetos, segundo um esquema:

Espírito – energia – matéria
Idéias – formas – objetos materiais

O plano intermediário corresponde ao astral, enquanto que os extremos são o mental e o físico.

Devemos lembrar que o uso da analogia não se limita apenas ao ocultismo, sendo universal, porque nem a filosofia, nem a teologia e nem a ciência podem prescindir dela. O papel da analogia na lógica, que é a base da filosofia e das ciências pode ser sintetizado no argumento do famoso economista da primeira metade do século XX, John Maynard Keynes, em seu livro “A Treatise on Probability”, quando diz:

“O método científico tem como objetivo descobrir os meios de elevar o alcance da analogia conhecida até que ela possa, na medida do possível, dispensar o método da indução pura.”

A indução pura se fundamenta na simples enumeração, sendo essencialmente uma conclusão tirada dos dados ou informações estatísticas da experiência.

Para Keynes, o ideal da ciência é encontrar meios para ampliar o alcance da analogia conhecida até que ela possa dispensar o método hipotético da indução pura. Ou seja, até que ela possa transformar o método científico em analogia pura, baseada na experiência pura, sem elementos hipotéticos imanentes ou inerentes na indução pura.

Já, São Tomás de Aquino propunha a doutrina da analogia do ser (analogia entis), que é a chave principal de sua filosofia.

Em outras palavras, podemos dizer que “Aleph” sintetiza ensinamentos necessários para a iniciação e o conhecimento de Deus.

“Aleph” é o símbolo da unidade, do princípio e, por conseguinte, da potência, da continuidade, da estabilidade e da equanimidade. É também o centro espiritual onde irradia o pensamento, estabelecendo uma relação entre os mundos superiores e inferiores pelo Vav (barra transversal) que liga dois Yod (superior e inferior). Pelo seu valor 1, é o emblema do Pai Manifestado que está por trás de todas as Manifestações.

Em cima, um Yod na posição correta, em baixo um Yod ao contrário, um Vav para reunir estas duas letras. Observamos imediatamente uma relação de simetria e de inversão entre estes dois Yod.

Yod em cima representa a Realidade para além da natureza, o mundo espiritual abstrato, puro. O céu anterior do Tao.

Yod em baixo é a réplica do mundo de cima, mas invertido. No mundo inferior, reconheço o mundo de cima e as suas leis, pelo ensino das homologias e da inversão. O céu posterior, o plano da matriz.

O Yod de cima olha pela sua ponta o mundo espiritual. O Yod de baixo faz exatamente o inverso. As águas de cima refletem-se nas águas de baixo.

Os dois lados simétricos são separados pela dualidade do homem. Mas este Vav que serve para separar, por outro lado, reúne e permite a comunicação entre o espiritual e o material, que finalmente são o reflexo um do outro e se fazem um.

No início das cruzadas, a influência da corrente gnóstica das escolas do Oriente Médio, serviu de inspiração para vários expedicionários cruzados que formaram uma das mais poderosas Egrégrogas da época – os Cavaleiros Templários. Para eles o ponto acima do Yod era constituído pelo ideal de criar um império universal perfeito e equilibrado em todos os sentidos ou planos. Este formidável esquema incluía todos os sonhos, entre os quais coibir os abusos do poder papal, elevar e aperfeiçoar todas as classes da sociedade humana e acabar com todas as lutas e disputas armadas. Era o sonho da realização do Reino de Deus na Terra, acalentado por homens inteligentes e almas cunhadas no cavalheirismo.

O elemento Yod ,segundo alguns autores, era constituído pelos ensinamentos de Hermes Trimegistos (divindade do hermetismo), baseado na influência do gnosticismo.

Já o elemento Vau dos Templários era constituído pelo culto de “Baphomet“. Para realizar seus ideais, contavam criar com os impulsos volitivos da Corrente um poderoso turbilhão astral. Assim, nas suas cerimônias secretas, um importante papel era desempenhado por uma estátua em forma de um bode representando “Baphomet”, símbolo do turbilhão astral “Nahash”, do Arcano XV do Tarô, o Diabo.

A Ordem dos Templários formou-se em 1118, sendo dissolvida em 1307, com o fim trágico do seu Grão Mestre Jac de Molay e de seus íntimos colaboradores perseguidos e assassinados.

Paralelamente ao aparecimento dos Templários, surgiram outras duas ordens na Europa: a primeira foi a Hermética, que aspirava realizar a Grande Obra, e a dos Maçons Livres, que professavam o culto do seu trabalho, preservando na arquitetura o simbolismo tradicional. Estes últimos eram os construtores das catedrais góticas.

Essas duas correntes aproximaram-se criando associações compostas de dois tipos de elementos: trabalhadores no plano mental e trabalhadores no plano físico. O elo de ligação estava no plano astral, o mundo dos símbolos iniciáticos tradicionais, traduzidos pelo trabalho dos hermetistas e expressos em forma acessível aos sentidos pelo trabalho dos Maçons.

Os Maçons Livres, oficialmente reconhecidos pelo Papa em 1277, decidiram posteriormente acolher e aceitar como irmãos os Cavaleiros Templários sobreviventes, que se tornaram assim conhecidos como Maçons Aceitos.

As grandes Egrégroras não se dissolvem facilmente devido a um desastre no plano físico. Mesmo sem ponto de apoio terreno, contam com a possibilidade de purificação e aperfeiçoamento no plano astral. As “cascas” que se formaram dos erros de seus adeptos no plano físico, se dissolvem permitindo que uma luz interna de pureza apareça com maior intensidade. Daí poder-se dizer que a Egrégora Templária purificou-se no astral durante cerca de 80 anos, permitindo o nascimento na terra do movimento Rosa Cruz.

A palavra Egrégrora provém do grego “egregorien”, que significa velar ou cuidar e designa a força gerada pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade, para a realização de um objetivo comum. Em outras palavras, é a atmosfera coletiva plasmada espiritualmente num certo ambiente ou a atmosfera psíquica resultante da reunião de pessoas, decorrente do somatório dos pensamentos, sentimentos e energias de um grupo de pessoas voltado para a produção de climas, em geral, virtuosos. Provavelmente foi por isso que Jesus ensinou: "Onde houver dois ou mais em meu nome, aí eu estarei."

O que os criadores das egrégoras perceberam e que nós aprendemos no estudo do ocultismo é que podemos usar essas forças para manipular pessoas e o comportamento da própria sociedade. A propaganda e a publicidade empregam várias das técnicas de magia do ocultismo para atingirem seus objetivos. As próprias religiões utilizam símbolos para congregar as pessoas em seu entorno e sabem que a canalização da mente de um grupo de pessoas voltadas para um objetivo comum, como no caso de pessoas rezando para obter determinada graça num culto religioso, têm uma força paranormal muito forte, aumentando a probabilidade de alcançarem o que se quer obter.


NOTAS:
1. Gnosticismo, tem por origem etimológica o termo grego "gnosis", que significa "conhecimento". designa o movimento histórico e religioso cristão que floresceu durante os séculos II e III, cujas bases filosóficas eram as da antiga Gnose (palavra grega que significa conhecimento), com influências do neoplatonismo e dos pitagóricos. Este movimento reivindicava a posse de conhecimentos secretos (a "gnose apócrifa", em grego) que, segundo eles, os tornava diferentes dos cristãos alheios a este conhecimento. Originou-se provavelmente na Ásia menor, e tem como base as filosofias pagãs, que floresciam na Babilônia, Egito, Síria e Grécia. O gnosticismo combinava alguns elementos da Astrologia e mistérios das religiões gregas, mistérios de Elêusis, bem como os do Hermetismo, com as doutrinas do Cristianismo. Em seu sentido mais abrangente, o Gnosticismo significa "a crença na Salvação pelo Conhecimento".

2. Egrégora designa a força gerada pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade.

3. Hermetismo é o estudo e prática da filosofia oculta e da magia associados a escritos atribuídos a Hermes Trismegisto, uma deidade sincrética que combina aspectos do deus grego Hermes e do deus egípcio Thot. São sete as principais leis herméticas, estas se baseiam nos princípios incluídos no livro "O Caibalion, que reúne os ensinamentos básicos da Lei que rege todas as coisas manifestadas. A palavra Caibalion seria um derivado grego da mesma raiz da palavra Cabala hebraica. O livro descreve as seguintes leis herméticas: Lei do Mentalismo: "O Todo é Mente; o Universo é mental." - Lei da Correspondência: "o que está fora é o reflexo do que está dentro". - Lei da Vibração: "Nada está parado, tudo se move, tudo vibra". - Lei da Polaridade: "Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados" - Lei do Ritmo: "Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a compensação". - Lei do Gênero: "O Gênero está em tudo: tudo tem seus princípios Masculino e Feminino, o gênero manifesta-se em todos os planos da criação". - Lei de Causa e Efeito: "Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos planos de causalidade mas nenhum escapa à Lei".


Referências bibliográficas:

1. MEBES, G. O. Os Arcanos Maiores do Tarô – Curso de enciclopédia do ocultismo. Editora Pensamento. São Paulo.
2. AUTOR ANÔNIMO. Meditações sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarô. 6ª edição. Editora Paulus. São Paulo, 2010.
3. Nichols, Sallie. Jung e o Tarô – Uma jornada arquetípica. 10ª edição. Editora Cultrix. São Paulo, 1995.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Carta I – O Mago (Parte 1)

Para Yung, o Mago (Carta I do Tarô) representa o homem que atingiu a harmonia e o equilíbrio entre a espontaneidade do inconsciente e a ação voluntária do consciente (no sentido do ego consciente). Seu estado de consciência é a síntese do consciente e inconsciente da espontaneidade criadora e da atividade voluntária executiva ou a síntese de si mesmo. Enquanto que o ego é somente o sujeito da consciência, a síntese de si mesmo é o sujeito de toda a psique, inclusive do inconsciente.

Jung foi um psicólogo suíço, considerado o pai da psicologia analítica ou psicologia junguiana. Ele não chegou a estudar com o judeu austríaco Sigmund Freud, mas ambos estabeleceram uma amizade com trocas constantes de correspondências, onde davam ciência um ao outro dos trabalhos e teorias que vinham desenvolvendo. Entre 1906 e 1913, os dois se corresponderam com mais de trezentas cartas, onde trocaram informações sobre seus sonhos, análises, confidências e discutiam casos clínicos que estavam tratando.

Jung jamais conseguiu aceitar a insistência de Freud de que as causas dos conflitos psíquicos sempre envolveriam algum trauma de natureza sexual, e Freud não admitia o interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes válidas de estudo em si. O rompimento entre eles foi inevitável, ocorrendo na década de 30 do século XX.

Muito importante também para o desenvolvimento da teoria yunguiana, foi sua amizade e troca de correspondência com o físico alemão W. Pauli entre 1932 e 1958. Estas cartas demonstram o esforço deles para descrever a natureza integrando tanto a physis quanto a psyche, ou seja, a matéria e o espírito e, conjuntamente, encontrar uma linguagem neutra capaz de unificar estas duas ciências. De acordo com isso, discutem o desenvolvimento do conceito de sincronicidade, que levaram Jung a uma posterior expansão do conceito de arquétipo. Esta última formulação da hipótese dos arquétipos está fundada no paralelismo existente entre a psicologia do inconsciente e a teoria quântica.

Jung percebeu que a pesquisa psicológica, à medida que se aprofunda em direção ao inconsciente, chega a limites irrepresentáveis, que ele denominou arquétipo, da mesma maneira como acontece com a pesquisa na Física Quântica que, de maneira similar, também chega aos esquemas irrepresentáveis das partículas elementares.

Antes mesmo do período em que Jung e Freud mantiveram amizade, Jung começou a desenvolver um sistema teórico que chamou, originalmente, de Psicologia dos Complexos, mais tarde chamando-o de Psicologia Analítica, como resultado direto do contato prático com seus pacientes. O conceito de inconsciente já estava bem sedimentado na sólida base psiquiátrica de Jung antes de seu contato pessoal com Freud, mas foi com este último, real formulador do conceito em termos clínicos, que Jung pode se basear para aprofundar seus próprios estudos. O contato entre os dois foi extremamente rico para ambos. Aliás, foi Jung quem cunhou o termo e a noção básica de complexo, que foi adotado por Freud.

Utilizando-se do conceito de "complexos" e do estudo dos sonhos e de desenhos, Jung passou a se dedicar profundamente aos meios pelos quais se expressa o inconsciente. Em sua teoria, enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos. Os arquétipos, da mesma forma que animais e homens, parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos. É provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos.

O inconsciente pessoal inclui conteúdos mentais adquiridos durante a vida do indivíduo que foram esquecidos ou reprimidos, enquanto que o inconsciente coletivo é uma estrutura herdada comum a toda a humanidade composta dos arquétipos - predisposições inatas para experimentar e simbolizar situações humanas universais de diferentes maneiras.

Segundo Jung o que está presente num jogo de Tarô é uma mera manifestação do inconsciente coletivo. O inconsciente e o consciente vivem num estado profundo de interdependência recíproca. O bem estar de um depende do bem estar do outro. Dentro desse contexto, a consciência não é, portanto, um simples estado da mente intelectual e racional.

Jung introduziu também o conceito de sincronicidade. O termo sincronicidade é uma tentativa de encontrar formas de explicação racional para fenômenos que a ciência não alcançava, tais como os fenômenos não causais que não podem ser explicados pela razão, porém são significativos para o indivíduo que os experimenta. A construção deste conceito surgiu da leitura que ele fez de um grande número de obras sobre alquimia e o pensamento renascentista.

Ele provou inclusive empiricamente que a maior parte da insanidade e desorientação mental existentes é conseqüência de um estreitamento e um crescente foco na racionalização da consciência. Haveria assim uma espécie de rebelião das forças universais do inconsciente coletivo, que acabariam por destruir os vestígios de uma consciência penosamente adquirida pelo homem.

Para Jung a consciência é o sonho permanente e mais profundo do inconsciente. É uma percepção, que inclui todas as formas não racionais de percepção e do conhecimento. Dentro desse conceito, a consciência só pode ser renovada e ampliada, na medida em que a vida exija, pela manutenção de suas linhas não racionais de comunicação com o inconsciente coletivo, das quais o Tarô é uma delas.

Uma viagem pelas cartas do Tarô, do primeiro ao vigésimo primeiro Arcano Maior ou Trunfo, mais a carta coringa do Louco, é assim uma viagem às nossas próprias profundezas, considerando os conceitos arquétipos contidos nestas cartas. Qualquer coisa que acharmos ao longo desse caminho é no fundo um aspecto do nosso mais profundo e elevado eu.

Esta viagem pode ser resumida da seguinte maneira:

Carta 0 ou 22 - O Louco - O impulso
Carta 1 - O Mago - O início
Carta 2 - A Sacerdotisa - A intuição
Carta 3 - A Imperatriz - O intelecto
Carta 4 - O Imperador  - O poder
Carta 5 - O Papa -  A responsabilidade
Carta 6  - O Enamorado - A indecisão
Carta 7 - O Carro - O domínio
Carta 8 - A Justiça - O equilíbrio
Carta 9 - O Eremita - A sabedoria
Carta 10 - A Roda - O movimento
Carta 11 - A Força - A vitória
Carta 12 - O Enforcado - A acomodação, O sacrifício
Carta 13 - A Morte - A transformação
Carta 14 - A Temperança - A moderação
Carta 15 - O Diabo - A ambigüidade
Carta 16 - A Torre - A ruptura
Carta 17 - A Estrela - A esperança
Carta 18 - A Lua - A ilusão
Carta 19 - O Sol - A realização
Carta 20 - O Julgamento - O renascimento
Carta 21 - O Mundo - A recompensa

O Tarô envolve uma sabedoria ancestral antiga para resolver nossos problemas pessoais e uma sabedoria para encontrar respostas criativas às perguntas universais que nos confrontam. Outro fato apontado por Jung é que as imagens das cartas do Tarô têm o poder de estimular a psique, cujo centro é o eu. O eu é um centro de percepção e estabilidade ampliados, não sendo uma coisa que nós criamos. Está lá desde o princípio e mesmo depois da morte. Já, o ego é o centro de nossa consciência, Enquanto o ego é “feito” o eu é “dado”.

Devia ter sido horrível para as pessoas, durante a Idade Média, quando percebiam possuir dons paranormais ou estar na presença de fenômenos sincronísticos. Não tinham a quem recorrer. O psicólogo ou conselheiro da época era um padre, que iria com certeza querer exorcizá-las a custa das torturas mais terríveis ou queimá-las na fogueira depois de torturá-las. A saída era ficar totalmente calada, rezando muito para tirar o diabo do corpo, ou então se tornar uma pessoa mística, do tipo que tinha visões de santos, mas que passava também pelo risco de ir parar na fogueira, como foi o caso de Joana d”Arc. Outro caminho era se juntar a alguma seita renegada pela igreja, já que não podia recorrer aos servidores do Deus católico. Só que essas pessoas acabavam se voltando para práticas de magia negra, pois acreditavam estar possuídas pelo demônio. Era o conhecido ditado “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

Até nas colônias do Novo Mundo observou-se o fenômeno de assassinar as pessoas consideradas bruxas, agora no contexto de uma seita protestante. Em 1692, no estado de Massachusetts, Estados Unidos da América, aconteceu um episódio, que ficou conhecido como o das Bruxas de Salem, onde foram executadas vinte pessoas, em sua maioria mulheres, sob a acusação de bruxaria. Durante um ano chegaram a ser presas na região, sob suspeita de bruxaria, cerca de cento e cinqüenta pessoas.

Mais tarde Jung introduziu na sincronicidade o conceito mais objetivo de grau da ordenação acausal ou não causal, em substituição à coincidência significativa ou significação preexistente. No inconsciente coletivo, o arquétipo é visto como o fator ordenador: o significado é uma qualidade que o homem precisa criar para si mesmo.

Como os acontecimentos sincronísticos são uns dos modos com que o nosso Mago interno melhor se comunica conosco, é importante aprender a decifrar sua linguagem oculta. A palavra magia é afim da palavra imaginação, ingrediente necessário para toda a criatividade do ser humano. Devemos ter em mente, no entanto, que essa magia pode ser utilizada tanto para o bem como para o mal, daí haver uma distinção entre magia branca e magia negra.

As pessoas tendem a se acharem especiais, quando os eventos sincronísticos apareceram mais amiúde. Contudo, deve-se lembrar que o fascínio exercido pelos acontecimentos parapsicológicos, podem se tornar um mero substituto da não compreendida realidade do espírito. As pessoas que não entenderem isso, podem se esquecer de usar a sincronicidade como uma ponte para a auto-compreensão.

Para toda carta dos Arcanos Maiores do Tarô, nós temos a visão de Jung e uma visão mais antiga, que poderíamos chamar de uma visão divinatória ou metafísica-lógica. Segundo esta última visão, O Mago é o Arcano dos Arcanos, pois revela o que é necessário saber para se entrar no jogo do Tarô. Ele pode ser considerado a chave de todos os outros Arcanos Maiores.

Os Arcanos, por sua vez, são símbolos autênticos. Eles não revelam segredos, mas arcanos. Arcano é aquilo que alguém deve saber para ser fecundo em determinado domínio da vida espiritual, aquilo que deve estar presente em nossa consciência ou em nosso subconsciente, para nos tornar capazes de fazer descobertas, de gerar novas idéias, de conceber novos temas e para nos tornar fecundos em nossos esforços criativos.

Se o arcano é superior ao segredo, o mistério é superior ao arcano. O mistério é um acontecimento espiritual comparável ao nascimento ou a morte física, sendo a mudança total da motivação espiritual e psíquica ou de plano da consciência. Os setes sacramentos da Igreja são as nuances da luz branca de um único Sacramento ou Mistério, o do segundo nascimento, que o Mestre ensinou a Nicodemos na conversa iniciática noturna. É isso que o Hermetismo Cristão entende por Grande Iniciação.

A Iniciação vem do alto e tem o valor e a duração da eternidade. O Iniciador está no alto. Aqui em baixo existem apenas discípulos. Por isso o hermetismo cristão não inicia ninguém, por ser uma iniciativa humana, nem tem a pretensão de rivalizar com a religião, nem com as ciências.

A primeira lâmina do tarô consiste num jovem, tendo na cabeça um grande chapéu em forma de lemniscata (símbolo do infinito), estando de pé atrás de uma pequena mesa, sobre a qual encontramos pequeno vaso amarelo, três pequenos discos amarelos, quatro discos vermelhos, um dos quais dividido ao meio por um traço, um copo vermelho com dois dados, uma faca e uma bolsa para guardar pequenos objetos. O jovem Mago tem uma varinha em sua mão esquerda e uma moeda amarela em sua mão direita. Ele segura os dois objetos com despreocupação, sem demonstrar qualquer sinal de força ou tensão. Ele age com espontaneidade, pois se trata de um jogo, não de trabalho. Não olha para os movimentos das mãos. Seu olhar se dirige para outro lugar.

Com efeito, o princípio fundamental e primeiro do esoterismo pode ter o seguinte enunciado:

“Aprendei primeiro a concentração sem esforço; transformai o trabalho em jogo; fazei com que o jugo que aceitastes seja suave e o fardo que carregais seja leve.”

A fonte original destas palavras são as palavras do Mestre: “O meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt. 11,30)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Percepção da paranormalidade

A partir da metade dos trinta anos de idade, passei a perceber que uma coisa diferente, que acontecia esporadicamente desde a infância, estava se tornando mais intensa na minha vida. Esta coisa, traduzida por eventos sem explicação, surgiam e me empurravam numa direção definida, que depois descobri ser o esoterismo. Mais tarde, iria entrar em contato com outras pessoas que sentiam a mesma coisa. Em minha leitura sobre a obra da maga ucraniana do século XIX, Helena Petrovna Blavatsky, descobri que ela também já percebia desde a infância ser diferente das outras pessoas e que possuía poderes psíquicos ou paranormais. Ela sabia também, desde cedo, que tinha uma missão a cumprir e que estava sendo guiada na direção do ocultismo.

Esta coisa diferente não se apresenta para mim, em geral, através de visões, mas em fatos reais e concretos, que sei que passarão a ter um significado na minha vida, como se dessem um recado. O que me impressiona até hoje é a força que isso tem, capaz até de derrubar uma árvore ou desviar um veículo pesado do seu destino.

Ainda me lembro do dia em que uma carreta carregada com sacos de arroz, com placa de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, engasgou na curva da esquina do prédio onde morava em Botafogo, impedindo sua passagem por algum tempo. A carreta não ia para frente nem para trás, só o fazendo depois de muito esforço e barulho do ajudante do caminhoneiro, que conseguiu retroceder a carreta de marcha ré, junto com meu carro e outros carros, que estavam em fila atrás, e sair pela Rua São Clemente em direção a sei lá para onde. O que estava fazendo esta carreta de arroz desgarrada num bairro residencial? Se fosse próximo do Cais do Porto ou do Mercado São Sebastião tinha sentido. Pouco tempo depois conheci minha atual esposa, que é originária justamente da cidade que constava na placa da carreta.

Outro fenômeno que me marcou intensamente aconteceu quando estava procurando um curso de Tarô para aprofundar meus estudos, pois já tinha feito um curso rápido no Esoteric Center da Tijuca. Para simplificar minha vida procurei um local o mais próximo possível de casa, uma vez que trabalhava e só tinha tempo para estudar à noite ou nos fins de semana. Acabei matriculando-me num curso ministrado por um grupo de psicólogas junguianas na Rua da Passagem em Botafogo. Depois de três adiamentos do início do curso, por motivos variados, quando já estava quase desistindo, marcaram uma nova data. No dia marcado sai de casa para ir ao curso, mas não consegui sair nem do prédio onde morava, diante de um forte temporal que tinha caído um pouco antes e que derrubou uma árvore bem em frente da garagem. Esta árvore tornava impossível seguir adiante. O recado estava dado e desisti do curso, mesmo perdendo o dinheiro da matrícula.

Pouco tempo depois encontrei, por acaso, numa farmácia em frente à Praça do Lido em Copacabana, uma amiga que me disse que o professor do curso do Esoteric Center, o Prof. Passos, estava ministrando um curso de Tarô em outro lugar para uma turma avançada, o qual me matriculei e fiquei praticando durante um ano.

Estes são apenas dois exemplos de fenômenos, que mais tarde fiquei sabendo ser uma conexão entre o espírito e a matéria, entre o interno e o externo.

Diversos cientistas descobriram que esta conexão é muito mais direta e real do que pensávamos. A idéia da existência do Mago interno, traduzida pelo arquétipo da Carta I do Tarô, já foi demonstrado, sendo considerado nos últimos tempos mais do que um mero misticismo.

Talvez a prova mais familiar de que nós somos capazes de criarmos o mundo objetivo, é oferecida por experiências científicas, como no exemplo dos físicos que postularam e descreveram com detalhes um novo elemento potencial, que mais tarde se manifestou na natureza exterior. Ou dos matemáticos que conseguiram descobrir as leis da órbita planetária com exatidão, cujas fórmulas matemáticas se comprovaram posteriormente.

Segundo um texto atribuído ao famoso físico Albert Einstein: “Aquilo que é impenetrável para nós existe de fato. Por trás dos segredos da natureza há algo inexplicável. A veneração a essa força que está além de tudo e que podemos compreender é a minha religião.”

Assim, verifica-se que, ao nível do psicóide, os padrões arquétipos do mundo interior correspondem exatamente aos da realidade externa. Jung descreve o termo psicóide como sendo um adjetivo aplicável a qualquer tipo de arquétipo, expressando a conexão essencialmente desconhecida, mas passível de experiência, entre a psique e a matéria. Isso significa que todos os arquétipos são, em sua natureza, psicóides.

Todos nós podemos citar exemplos em que um padrão interno correspondeu a um padrão externo, de modo mágico, quando nenhuma conexão causal poderia ser encontrada entre os dois eventos. É a imagem interna se materializando em realidade externa. Quantas vezes pensamos em determinado dia ou dias persistentemente em um amigo ou parente que não vemos há algum tempo e, quando menos esperamos, este se materializa através de um telefonema ou o encontramos no caminho para o trabalho. Outro exemplo, pode se referir ao sonho que se realiza e o acontecimento que o prediz.

Jung definiu esses fenômenos com o termo sincronicidade, que é a palavra que traduz essas coincidências entre estados internos e eventos externos. Segundo ele, fenômenos sincronísticos significam a coincidência importante de um evento psíquico com um evento físico, que não podem ser casualmente ligados e estão separados no espaço ou no tempo. É o que ele chamou de coincidência significativa.

É na realidade o nosso Mago interno da Carta I do Tarô, o responsável pelas mágicas erupções do chamado mundo unitário no mundo cotidiano de espaço e tempo, causa e efeito.