quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Carta I – O Mago (Parte 1)

Para Yung, o Mago (Carta I do Tarô) representa o homem que atingiu a harmonia e o equilíbrio entre a espontaneidade do inconsciente e a ação voluntária do consciente (no sentido do ego consciente). Seu estado de consciência é a síntese do consciente e inconsciente da espontaneidade criadora e da atividade voluntária executiva ou a síntese de si mesmo. Enquanto que o ego é somente o sujeito da consciência, a síntese de si mesmo é o sujeito de toda a psique, inclusive do inconsciente.

Jung foi um psicólogo suíço, considerado o pai da psicologia analítica ou psicologia junguiana. Ele não chegou a estudar com o judeu austríaco Sigmund Freud, mas ambos estabeleceram uma amizade com trocas constantes de correspondências, onde davam ciência um ao outro dos trabalhos e teorias que vinham desenvolvendo. Entre 1906 e 1913, os dois se corresponderam com mais de trezentas cartas, onde trocaram informações sobre seus sonhos, análises, confidências e discutiam casos clínicos que estavam tratando.

Jung jamais conseguiu aceitar a insistência de Freud de que as causas dos conflitos psíquicos sempre envolveriam algum trauma de natureza sexual, e Freud não admitia o interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes válidas de estudo em si. O rompimento entre eles foi inevitável, ocorrendo na década de 30 do século XX.

Muito importante também para o desenvolvimento da teoria yunguiana, foi sua amizade e troca de correspondência com o físico alemão W. Pauli entre 1932 e 1958. Estas cartas demonstram o esforço deles para descrever a natureza integrando tanto a physis quanto a psyche, ou seja, a matéria e o espírito e, conjuntamente, encontrar uma linguagem neutra capaz de unificar estas duas ciências. De acordo com isso, discutem o desenvolvimento do conceito de sincronicidade, que levaram Jung a uma posterior expansão do conceito de arquétipo. Esta última formulação da hipótese dos arquétipos está fundada no paralelismo existente entre a psicologia do inconsciente e a teoria quântica.

Jung percebeu que a pesquisa psicológica, à medida que se aprofunda em direção ao inconsciente, chega a limites irrepresentáveis, que ele denominou arquétipo, da mesma maneira como acontece com a pesquisa na Física Quântica que, de maneira similar, também chega aos esquemas irrepresentáveis das partículas elementares.

Antes mesmo do período em que Jung e Freud mantiveram amizade, Jung começou a desenvolver um sistema teórico que chamou, originalmente, de Psicologia dos Complexos, mais tarde chamando-o de Psicologia Analítica, como resultado direto do contato prático com seus pacientes. O conceito de inconsciente já estava bem sedimentado na sólida base psiquiátrica de Jung antes de seu contato pessoal com Freud, mas foi com este último, real formulador do conceito em termos clínicos, que Jung pode se basear para aprofundar seus próprios estudos. O contato entre os dois foi extremamente rico para ambos. Aliás, foi Jung quem cunhou o termo e a noção básica de complexo, que foi adotado por Freud.

Utilizando-se do conceito de "complexos" e do estudo dos sonhos e de desenhos, Jung passou a se dedicar profundamente aos meios pelos quais se expressa o inconsciente. Em sua teoria, enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos. Os arquétipos, da mesma forma que animais e homens, parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos. É provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos.

O inconsciente pessoal inclui conteúdos mentais adquiridos durante a vida do indivíduo que foram esquecidos ou reprimidos, enquanto que o inconsciente coletivo é uma estrutura herdada comum a toda a humanidade composta dos arquétipos - predisposições inatas para experimentar e simbolizar situações humanas universais de diferentes maneiras.

Segundo Jung o que está presente num jogo de Tarô é uma mera manifestação do inconsciente coletivo. O inconsciente e o consciente vivem num estado profundo de interdependência recíproca. O bem estar de um depende do bem estar do outro. Dentro desse contexto, a consciência não é, portanto, um simples estado da mente intelectual e racional.

Jung introduziu também o conceito de sincronicidade. O termo sincronicidade é uma tentativa de encontrar formas de explicação racional para fenômenos que a ciência não alcançava, tais como os fenômenos não causais que não podem ser explicados pela razão, porém são significativos para o indivíduo que os experimenta. A construção deste conceito surgiu da leitura que ele fez de um grande número de obras sobre alquimia e o pensamento renascentista.

Ele provou inclusive empiricamente que a maior parte da insanidade e desorientação mental existentes é conseqüência de um estreitamento e um crescente foco na racionalização da consciência. Haveria assim uma espécie de rebelião das forças universais do inconsciente coletivo, que acabariam por destruir os vestígios de uma consciência penosamente adquirida pelo homem.

Para Jung a consciência é o sonho permanente e mais profundo do inconsciente. É uma percepção, que inclui todas as formas não racionais de percepção e do conhecimento. Dentro desse conceito, a consciência só pode ser renovada e ampliada, na medida em que a vida exija, pela manutenção de suas linhas não racionais de comunicação com o inconsciente coletivo, das quais o Tarô é uma delas.

Uma viagem pelas cartas do Tarô, do primeiro ao vigésimo primeiro Arcano Maior ou Trunfo, mais a carta coringa do Louco, é assim uma viagem às nossas próprias profundezas, considerando os conceitos arquétipos contidos nestas cartas. Qualquer coisa que acharmos ao longo desse caminho é no fundo um aspecto do nosso mais profundo e elevado eu.

Esta viagem pode ser resumida da seguinte maneira:

Carta 0 ou 22 - O Louco - O impulso
Carta 1 - O Mago - O início
Carta 2 - A Sacerdotisa - A intuição
Carta 3 - A Imperatriz - O intelecto
Carta 4 - O Imperador  - O poder
Carta 5 - O Papa -  A responsabilidade
Carta 6  - O Enamorado - A indecisão
Carta 7 - O Carro - O domínio
Carta 8 - A Justiça - O equilíbrio
Carta 9 - O Eremita - A sabedoria
Carta 10 - A Roda - O movimento
Carta 11 - A Força - A vitória
Carta 12 - O Enforcado - A acomodação, O sacrifício
Carta 13 - A Morte - A transformação
Carta 14 - A Temperança - A moderação
Carta 15 - O Diabo - A ambigüidade
Carta 16 - A Torre - A ruptura
Carta 17 - A Estrela - A esperança
Carta 18 - A Lua - A ilusão
Carta 19 - O Sol - A realização
Carta 20 - O Julgamento - O renascimento
Carta 21 - O Mundo - A recompensa

O Tarô envolve uma sabedoria ancestral antiga para resolver nossos problemas pessoais e uma sabedoria para encontrar respostas criativas às perguntas universais que nos confrontam. Outro fato apontado por Jung é que as imagens das cartas do Tarô têm o poder de estimular a psique, cujo centro é o eu. O eu é um centro de percepção e estabilidade ampliados, não sendo uma coisa que nós criamos. Está lá desde o princípio e mesmo depois da morte. Já, o ego é o centro de nossa consciência, Enquanto o ego é “feito” o eu é “dado”.

Devia ter sido horrível para as pessoas, durante a Idade Média, quando percebiam possuir dons paranormais ou estar na presença de fenômenos sincronísticos. Não tinham a quem recorrer. O psicólogo ou conselheiro da época era um padre, que iria com certeza querer exorcizá-las a custa das torturas mais terríveis ou queimá-las na fogueira depois de torturá-las. A saída era ficar totalmente calada, rezando muito para tirar o diabo do corpo, ou então se tornar uma pessoa mística, do tipo que tinha visões de santos, mas que passava também pelo risco de ir parar na fogueira, como foi o caso de Joana d”Arc. Outro caminho era se juntar a alguma seita renegada pela igreja, já que não podia recorrer aos servidores do Deus católico. Só que essas pessoas acabavam se voltando para práticas de magia negra, pois acreditavam estar possuídas pelo demônio. Era o conhecido ditado “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

Até nas colônias do Novo Mundo observou-se o fenômeno de assassinar as pessoas consideradas bruxas, agora no contexto de uma seita protestante. Em 1692, no estado de Massachusetts, Estados Unidos da América, aconteceu um episódio, que ficou conhecido como o das Bruxas de Salem, onde foram executadas vinte pessoas, em sua maioria mulheres, sob a acusação de bruxaria. Durante um ano chegaram a ser presas na região, sob suspeita de bruxaria, cerca de cento e cinqüenta pessoas.

Mais tarde Jung introduziu na sincronicidade o conceito mais objetivo de grau da ordenação acausal ou não causal, em substituição à coincidência significativa ou significação preexistente. No inconsciente coletivo, o arquétipo é visto como o fator ordenador: o significado é uma qualidade que o homem precisa criar para si mesmo.

Como os acontecimentos sincronísticos são uns dos modos com que o nosso Mago interno melhor se comunica conosco, é importante aprender a decifrar sua linguagem oculta. A palavra magia é afim da palavra imaginação, ingrediente necessário para toda a criatividade do ser humano. Devemos ter em mente, no entanto, que essa magia pode ser utilizada tanto para o bem como para o mal, daí haver uma distinção entre magia branca e magia negra.

As pessoas tendem a se acharem especiais, quando os eventos sincronísticos apareceram mais amiúde. Contudo, deve-se lembrar que o fascínio exercido pelos acontecimentos parapsicológicos, podem se tornar um mero substituto da não compreendida realidade do espírito. As pessoas que não entenderem isso, podem se esquecer de usar a sincronicidade como uma ponte para a auto-compreensão.

Para toda carta dos Arcanos Maiores do Tarô, nós temos a visão de Jung e uma visão mais antiga, que poderíamos chamar de uma visão divinatória ou metafísica-lógica. Segundo esta última visão, O Mago é o Arcano dos Arcanos, pois revela o que é necessário saber para se entrar no jogo do Tarô. Ele pode ser considerado a chave de todos os outros Arcanos Maiores.

Os Arcanos, por sua vez, são símbolos autênticos. Eles não revelam segredos, mas arcanos. Arcano é aquilo que alguém deve saber para ser fecundo em determinado domínio da vida espiritual, aquilo que deve estar presente em nossa consciência ou em nosso subconsciente, para nos tornar capazes de fazer descobertas, de gerar novas idéias, de conceber novos temas e para nos tornar fecundos em nossos esforços criativos.

Se o arcano é superior ao segredo, o mistério é superior ao arcano. O mistério é um acontecimento espiritual comparável ao nascimento ou a morte física, sendo a mudança total da motivação espiritual e psíquica ou de plano da consciência. Os setes sacramentos da Igreja são as nuances da luz branca de um único Sacramento ou Mistério, o do segundo nascimento, que o Mestre ensinou a Nicodemos na conversa iniciática noturna. É isso que o Hermetismo Cristão entende por Grande Iniciação.

A Iniciação vem do alto e tem o valor e a duração da eternidade. O Iniciador está no alto. Aqui em baixo existem apenas discípulos. Por isso o hermetismo cristão não inicia ninguém, por ser uma iniciativa humana, nem tem a pretensão de rivalizar com a religião, nem com as ciências.

A primeira lâmina do tarô consiste num jovem, tendo na cabeça um grande chapéu em forma de lemniscata (símbolo do infinito), estando de pé atrás de uma pequena mesa, sobre a qual encontramos pequeno vaso amarelo, três pequenos discos amarelos, quatro discos vermelhos, um dos quais dividido ao meio por um traço, um copo vermelho com dois dados, uma faca e uma bolsa para guardar pequenos objetos. O jovem Mago tem uma varinha em sua mão esquerda e uma moeda amarela em sua mão direita. Ele segura os dois objetos com despreocupação, sem demonstrar qualquer sinal de força ou tensão. Ele age com espontaneidade, pois se trata de um jogo, não de trabalho. Não olha para os movimentos das mãos. Seu olhar se dirige para outro lugar.

Com efeito, o princípio fundamental e primeiro do esoterismo pode ter o seguinte enunciado:

“Aprendei primeiro a concentração sem esforço; transformai o trabalho em jogo; fazei com que o jugo que aceitastes seja suave e o fardo que carregais seja leve.”

A fonte original destas palavras são as palavras do Mestre: “O meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt. 11,30)

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